Identidade é a força do design elegante e atemporal de Rejane Carvalho Leite. Como as grandes obras, as criações da designer nascem com vigor e beleza perenes, atributos para acompanhar gerações como herança e virar objetos de desejo. Seus móveis e acessórios para décor compõem uma família harmoniosa em constante crescimento. Cada cadeira, sofá, banco, cama, mesa, luminária, metal para banheiro, tapete, fruteira ou vaso honra a sua origem e soma-se ao legado da marca Rejane Carvalho Leite. Essa hereditariedade começa na memória de linhas e detalhes. Como uma força da natureza, cada combinação silenciosa sai dos desenhos criados em preciosos cadernos, guardiões do seu DNA. Peças desenhadas completas ou como uma proposta de detalhe – “saídas da cabeça para a ponta do lápis” – esperam o momento de entrarem em cena. Tais como foram criadas, ou combinadas entre si, saltam das páginas para virarem obras na medida certa, que despertam empatia, identificação emocional e convidam ao toque.

Conhecida por suas cadeiras, peças tidas como as mais difíceis de serem criadas, por envolverem critérios técnicos antes dos estéticos, a designer transita com tranquilidade e segurança por essas peças desde 2000. A data marca o início do seu trabalho conectado a uma indústria – como todas com as quais trabalha, com empatia pelo seu modo de ver o design e a sua forma de vivenciar o desenvolvimento do produto, com presença na indústria e acompanhamento de protótipos para ajustes finais.

Essa experiência faz com que, na etapa de criação, ao chegar à escolha de detalhes, Rejane já tenha antes introjetado as combinações de ângulos e alturas, diretrizes técnicas construtivas. O resultado confere a um desenho simples a complexidade do toque do seu talento. “Se tem detalhe, é solução técnica”, ressalta Rejane. Contudo, acredita que “todo designer tem que estar atento aos detalhes, que dão personalidade aos produtos, a sua impressão digital”, consciente da importância de mostrar a manualidade, de ter o valor percebido na peça.

– Design não é arte para mim; o produto soluciona uma necessidade – resume a designer, muito focada na ergonomia, atributo que garante o conforto de cada móvel.
De 2006 a 2007, a porto-alegrense aprimorou-se em Milão no curso de Design Total do prestigiado Politecnico di Milano. Foi uma temporada de estudos em três turnos. Chegou na universidade italiana uma arquiteta e urbanista formada pela UniRitter, em 1995, com experiência em arquitetura comercial e incursões pelo design, desenvolvido a partir da necessidade de próprios projetos, e retornou ao Brasil uma designer made in Italy com o tempero da sua criatividade e personalidade brasileira. Rejane revelou desde cedo o seu bom gosto e talento ao percorrer todas as nuances de materiais, descoberta iniciada pela madeira. Aprofundou até chegar ao uso de uma espécie invasiva, uva-do-Japão, cujo aproveitamento gera benefício à natureza, oportunidade junto a uma das fábricas com as quais trabalha.

– O designer tem que estar aberto a testar qualquer material. Aí é que está o desafio: testar a capacidade de ir no limite do material (para fazer coisas novas) – ressalta a curiosa e inquieta Rejane.

A designer trabalha com madeiras, cerâmica, fibras e metais como alumínio e prepara uma incursão pelo acrílico. Apesar de toda a bagagem com materiais, parcerias com grandes indústrias e de tantos produtos de diferentes escalas que entram de forma natural na composição dos espaços, a autora não tem produtos preferidos. Contudo, reconhece que o seu acervo tem peças inesquecíveis como o banco Macaron, de 2014, exposto até em Nova York, no showroom do fabricante. Inspirado no doce francês homônimo, tem uma forma incomum e lúdica.

– Considero importante criar Macarons, produtos com design surpreendente, que se destacam, mas mais importante ainda é construir uma identidade; isso significa apresentar obras com características identificáveis dessa genética, independente da coleção, seja de objetos ou grandes móveis. O mercado passa a reconhecer essa característica e a procurar por ela, caso se identifique – diz Rejane, com obra marcada tanto pela elegância quanto pelo uso da madeira.

Sua inspiração é diversa e batizada com talento até nos nomes das peças: poltrona Irupé, vitória-régia em tupi-guarani; Moliçosa, poltrona que traz a características da poltrona Mole e da cadeira Preguiçosa, dos ícones de design Sergio Rodrigues e Estúdio Palma. Há outras peças que encantam ao observar-se uma sutil alusão ao tema, como a linha Plié, uma referência a um passo de balé; ou a cadeira Grão, com encosto bipartido de madeira laminada e couro justapostos, sutileza figurativa que brotou da beleza do grão do café.

Essa riqueza de propostas de design autoral de Rejane Carvalho Leite perpassa todo o mobiliário de uma residência, com incursões por áreas externas e aplicações também em ambientes de trabalho. Na origem, o exercício de procurar “enxergar detalhes e tentar chegar a um resultado diferente do que qualquer pessoa faria intuitivamente” explica a criadora de desenhos irretocáveis.

Isso vale tanto para os móveis, fabricados com os parceiros nacionais e internacionais Dona Flor, Du Design, Schuster, Florense, Moora Mobília, Itália Estofados e Breton, quanto para a linha de misturadores monocomando criada em parceria com o escritório italiano Armato & Bua, de Florença, ou para as peças projetadas com suas sócias no estúdio e loja Plataforma 4, com sede em São Paulo. Rejane Carvalho Leite, Amélia Tarozzo, Camila Fix e Flavia Pagotti Silva somaram suas habilidades e vivências nas quatro carreiras individuais para experienciar uma bem-sucedida forma diferente de criar e propagar o design.

Mostras nacionais como SP–Arte e DW! e internacionais como Salone del Mobile. Milano e FuoriSalone abençoam e consolidam o reconhecimento do nível do design de Rejane Carvalho Leite. A designer esteve presente em mais de uma edição da Milan Design Week, que tem como âncora a maior plataforma de lançamentos de design do mundo conhecida pela marca iSaloni.

Texto por Eleone Prestes

Foto por Cláudio Fonseca